Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/05/1449407-portabilidade-do-credito-imobiliario-nao-deve-gerar-guerra-de-taxas.shtml
Portabilidade
do crédito imobiliário não deve gerar 'guerra de taxas'
DANIELLE BRANT
DE SÃO PAULO
05/05/2014 03h00
Pelo menos no primeiro momento após a regulamentação da portabilidade do
financiamento imobiliário, que permite a troca do empréstimo de uma instituição
para outra que ofereça condições mais vantajosas, os bancos não devem abrir uma
"guerra de taxas" em busca de novos clientes, afirmam consultores
ouvidos pela Folha.
Procurados, quatro dos cinco maiores bancos do país -Bradesco, Banco do
Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal- dizem estar prontos para adotar as
normas da resolução do Banco Central, que entram em vigor hoje, mas foram
evasivos quanto às estratégias de mercado. O Itaú não quis comentar o tema.
O Santander foi o único a detalhar um pouco seus planos. Afirmou que
acompanhará de perto o comportamento do mercado de crédito imobiliário e, sempre
que possível, oferecerá condições especiais para que o cliente vá para o banco
e nele permaneça.
DISPUTA
A disputa por esse novo cliente, porém, não deve ser tão acirrada
inicialmente, na análise de Miguel Ribeiro, diretor da Anefac (Associação Nacional
dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
"Os bancos consideram que, se forem muito afoitos para 'roubar'
clientes da concorrência, vão sofrer a mesma investida. O que vejo é um
movimento das instituições para segurar seus melhores clientes", afirma.
FIDELIZAÇÃO
"O financiamento imobiliário é um dos mais baratos do mercado, mas
de longo prazo. A grande vantagem para o banco nesse segmento é a fidelização
do cliente, que poderá, ao longo do tempo, adquirir mais produtos, como previdência
e outros investimentos", acrescenta.
Claudia Martinez, diretora do Banco Máxima, também não vê uma
"guerra de taxas" no momento.
"Há uma pequena margem para redução das taxas do crédito
imobiliário. Para que a portabilidade tivesse um impacto relevante, a diferença
entre as taxas cobradas pelos bancos teria que ser maior." Hoje, os juros
variam de 8% ao ano a 12% ao ano, aproximadamente.
CRÉDITO AMIGO
Para Pedro Seixas Corrêa, professor de economia da FGV (Fundação Getulio
Vargas), a procura maior pela portabilidade do financiamento deve ser dos
consumidores que tomaram crédito há pelo menos cinco anos, quando os juros eram
mais altos que os de hoje.
A partir de meados de 2011, o juro básico (a taxa Selic) caiu até chegar
ao menor patamar da história, de 7,25% ao ano, em que permaneceu entre outubro
de 2012 e abril de 2013.
"Para o consumidor que tomou crédito nesse período de baixa de
juros, vai ser mais difícil encontrar novas propostas que compensem a migração
do crédito", diz Corrêa.
Ione Amorim, economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor), acredita que a portabilidade vá ter mais utilidade no futuro,
quando as taxas de juros voltarem a cair.